BORORÓ: a música no Brasil do século XX

By: Alexandre da Maia Raphael Dorsa Neto Rádio Cultura FM de Brasília 100 9
  • Summary

  • Programa semanal sobre a história da música no Brasil do século XX, produzido e apresentado por Alexandre da Maia e Raphael Dorsa Neto. Produção e locução das vinhetas: Fábio Iarede (@podcastdofiarede). O Bororó é transmitido todas as segundas-feiras, 21h, com reprise nas quartas-feiras, 11h, na Rádio Cultura FM de Brasília - 100,9 FM, a rádio pública do Distrito Federal. Aqui a gente conversa sobre pessoas, movimentos, ritmos, gravadoras, lugares e tudo aquilo que interessa à história da música brasileira do século XX. Afinal, Bororó também é cultura.
    Alexandre da Maia, Raphael Dorsa Neto, Rádio Cultura FM de Brasília 100,9
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Episodes
  • Episódio 34 - Cátia de França
    Oct 20 2024

    Cátia de França é uma das mais singulares vozes da música brasileira, especialmente conhecida por seu trabalho como compositora, cantora e multiinstrumentista.

    Nascida em João Pessoa, na Paraíba, em 1947, Cátia traz em sua obra uma forte conexão com as raízes culturais nordestinas, misturando elementos da música popular regional, como o coco, o baião e o forró, com influências da MPB e da literatura brasileira. Sua carreira é marcada pela fusão criativa de música e poesia, sendo frequentemente inspirada por escritores como João Cabral de Melo Neto e Guimarães Rosa.

    Seu álbum de estreia, "20 Palavras ao Redor do Sol" (1979), é uma obra de referência para quem busca compreender a riqueza da música nordestina reinterpretada no contexto da década de 1970. O disco é um mosaico de ritmos regionais, com letras que dialogam com a tradição literária brasileira, especialmente com a obra de João Cabral, como em “Coito das Araras”. Essa capacidade de aliar a força poética de grandes escritores com uma musicalidade sofisticada fez de Cátia uma figura de culto entre os admiradores da música nordestina e da MPB.

    Outro marco em sua discografia é o álbum “Estilhaços” (1980), onde sua habilidade de traduzir o cotidiano e a cultura do sertão nordestino em músicas vibrantes e engajadas se aprofunda. Ao longo dos anos, Cátia de França seguiu desafiando convenções, misturando gêneros, explorando novas sonoridades e mantendo um vínculo com a cultura nordestina que a alimenta artisticamente.

    Embora menos conhecida do grande público, Cátia é admirada por sua autenticidade e por sua dedicação à experimentação artística. Sua obra ecoa a força da tradição e a liberdade da criação contemporânea, posicionando-a como uma das artistas mais respeitadas e inovadoras do cenário brasileiro.

    Raphael Dorsa Neto apresenta o Lado A dessa grande artista brasileira com uma entrevista especial, realizada no estado do Rio de Janeiro. Acompanhe a partir de agora essa homenagem do Bororó a Cátia de França.

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    1 hr
  • Episódio 33 - Cartola
    Oct 14 2024

    Em 11 de outubro de 2024, completam-se 116 anos do nascimento de Angenor de Oliveira, o Cartola, um dos maiores ícones da música brasileira e do samba. Seu nome ressoa como sinônimo de lirismo, sofisticação e resistência cultural, atravessando gerações como um símbolo da potência poética e musical das camadas populares do Brasil. Cartola não foi apenas um compositor extraordinário; ele moldou as fundações do samba e, por extensão, da própria identidade musical brasileira no século XX.

    Nascido no Catete e criado em Laranjeiras e no Morro da Mangueira, Cartola viveu na pele a realidade dos morros cariocas, ambiente onde a luta pela sobrevivência cotidiana e a discriminação racial e social eram constantes. Foi nesse contexto que o samba emergiu como a expressão legítima e visceral de um povo que, mesmo marginalizado, encontrou na música um canal de expressão de suas alegrias, dores e esperanças. Cartola, mais do que um observador desse processo, foi um dos arquitetos dessa forma de arte, contribuindo decisivamente para sua estruturação tanto no plano musical quanto simbólico.

    Aos 20 anos, em 1928, ele cofundou a Estação Primeira de Mangueira, uma escola de samba que se tornaria uma das mais emblemáticas do carnaval carioca. Se hoje Mangueira é um dos maiores redutos de resistência cultural afro-brasileira, muito disso se deve à visão e à ação de Cartola. Ele trouxe ao samba uma dignidade que antes era negada pelas elites culturais, que viam o gênero como uma manifestação menor, associada ao crime e à desordem. Ao lado de Carlos Cachaça e outros sambistas, Cartola ajudou a elevar o samba à categoria de arte refinada, comparável ao que de melhor se fazia no Brasil e no mundo.

    O legado de Cartola transcende sua própria vida. Sua obra ajudou a criar um paradigma de samba que influencia até hoje grandes nomes da música brasileira, como Paulinho da Viola, Beth Carvalho, Zeca Pagodinho, e muitos outros. Ao colocar a alma nas suas canções, ele fez com que o samba deixasse de ser visto como música marginalizada e ganhasse status de patrimônio cultural.


    O Brasil contemporâneo, muitas vezes marcado por uma desconexão com sua própria história cultural, precisa urgentemente revisitar Cartola. Sua obra é um lembrete constante da potência criativa e intelectual do povo afro-brasileiro, que, apesar de tantas adversidades, produziu uma das músicas mais ricas e complexas do mundo. O samba de Cartola, com seu lirismo e sofisticação, é um espelho da alma brasileira, refletindo as contradições, as belezas e as tristezas de um país multifacetado.

    Aos 116 anos de seu nascimento, Cartola continua sendo um farol. Sua música, marcada pela tristeza e pela alegria, pela luta e pela celebração, nos ensina que, mesmo nos momentos mais difíceis, há beleza a ser encontrada. O mundo pode ser um moinho, mas, nas mãos de Cartola, ele girou sempre ao som de uma melodia que transcende o tempo e a dor, transformando-se em eternidade.

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    57 mins
  • Episódio 32 - Candeia
    Oct 7 2024

    Candeia, nascido Antônio Candeia Filho, foi um dos maiores compositores e intérpretes do samba, especialmente dentro da vertente do samba de raiz e do samba-enredo, marcando profundamente a história do gênero. Candeia tinha uma sensibilidade única para retratar as vivências do povo negro, a luta por dignidade e a preservação das tradições do samba e da cultura afro-brasileira.

    Nascido em 17 de agosto de 1935, no bairro de Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, ele cresceu imerso no universo do samba, sendo filho de um mestre de capoeira e sambista, o que desde cedo o ligou às tradições negras e populares. Começou sua trajetória na escola de samba Portela, uma das mais tradicionais do Rio, para a qual compôs sambas-enredo memoráveis. Um dos mais marcantes foi o enredo “Seis Datas Magnas” (1957), que lhe rendeu o primeiro campeonato da escola e destacou seu talento.

    Além de seu papel na Portela, Candeia também se destacou por sua carreira solo. Um momento crucial em sua vida ocorreu em 1965, quando foi baleado em um confronto com um policial, o que o deixou paraplégico. Esse evento foi transformador, pois embora tenha limitado sua mobilidade física, não diminuiu sua veia criativa, e ele usou sua música para fortalecer suas lutas por igualdade racial e valorização da cultura afro-brasileira.


    Sua discografia é um tesouro para qualquer amante do samba. O álbum “Axé! Gente Amiga do Samba” (1978) é um dos pontos altos de sua obra, onde Candeia expressa seu amor pelo samba de roda, a cultura popular e a religiosidade afro-brasileira, especialmente o candomblé. Outra obra essencial é o disco “Samba de Roda” (1975), em que ele aprofunda ainda mais as raízes do samba tradicional, trazendo um resgate dos sambas de terreiro e das rodas de partido alto.

    Candeia também foi um ativista cultural e um dos fundadores do Grêmio Recreativo de Arte Negra Escola de Samba Quilombo, em 1975. Esse projeto tinha como objetivo resgatar a essência das escolas de samba, que, segundo ele, estavam se afastando de suas raízes comunitárias e culturais em prol de uma maior comercialização e espetáculo. O Quilombo defendia a participação da comunidade e a preservação das tradições afro-brasileiras.

    Entre suas composições mais conhecidas estão canções como “Preciso Me Encontrar”, uma de suas obras-primas, eternizada pela gravação de Cartola e também famosa na voz de Marisa Monte, e “Testamento de Partideiro”, onde declara seu orgulho de ser sambista e partideiro, celebrando a força do samba como símbolo de resistência.

    Candeia morreu jovem, aos 43 anos, em 1978. Ele foi um poeta do samba que expressou com profundidade a luta e o orgulho do povo negro, e sua música permanece uma referência fundamental para quem busca entender o verdadeiro espírito do samba.

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    56 mins

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